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segunda-feira, 13 de abril de 2009

Um pouco mais desse maluco beleza


A Psicanálise poética de Hélio Pellegrino

Nascido na cidade de Belo Horizonte em 05 de janeiro de 1924, Hélio Pellegrino se destacou no cenário literário nacional e tornou-se referência na vida política e cultural brasileira. Por meio de artigos publicados em jornais do Rio de Janeiro e São Paulo, Hélio discutiu com maestria a sua especialidade, a Psicanálise, e os caminhos da religião, política, arte, economia e literatura.Filho de Braz Pellegrino, famoso médico da cidade, e Assunta Magaldi Pellegrino, nascida no sul da Itália, o poeta tornou-se amigo de Fernando Sabino logo quando criança, amizade que perdurou por toda a sua vida. Logo cedo, demonstrou seu interesse por literatura e, aos 14 anos, dedicou-se à leitura de Carlos Drummond, ocasião em que começou a escrever seus primeiros poemas.Em 1940, Hélio fortificou laços de amizade com Fernando Sabino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos, formando, assim, o grupo que ficou conhecido como “os quatro mineiros”. Dois anos depois, o poema “Deixai-o”, considerado sua primeira obra significativa, foi publicado na revista católica A ordem. No mesmo ano, por pressão da família, ingressou na faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e, em 1943, decidiu se especializar na área da medicina psiquiátrica.Desde os tempos de estudante, Hélio participou ativamente da vida política do país, porém, sem nunca abandonar o seu viés literário. Em 1944 editou o jornal clandestino Liberdade na companhia de Otto Lara Resende, Darci Ribeiro, Francisco Iglesias, Simão Vianna de Cunha Pereira e Wilson Figueiredo. No ano seguinte, participou da fundação da União Democrática Nacional (UDN), que, apesar de ter sido voltada, num primeiro momento, contra a ditadura estadonovista, caracterizou-se essencialmente pela oposição constante a Getúlio Vargas e ao getulismo. Após ter concorrido ao cargo de deputado federal pelo partido, Hélio se desligou da UDN em 1946 e fundou a Esquerda Democrática, ligada diretamente ao Partido Comunista.Em 1947, o poeta publicou um livreto com dois poemas (“Poema do príncipe exilado” e “Deixe que eu te ame”) através do grupo literário “Edifício”. No mesmo ano, iniciou a prática psiquiátrica no manicômio Raul Soares, em Belo Horizonte, abrindo seu consultório particular em 1950 no Hospital de Neuropsiquiatria infantil. Com o propósito de se formar psicanalista, Hélio começou uma análise didática com Iracy Doyle, interrompida em 1956 pelo seu falecimento. Dois anos depois, retomou a análise com Dona Catarina Kemper, para se formar em 1963. Quando mudou-se para o Rio de Janeiro com sua família, em 1952, começou a trabalhar como redator no jornal O Globo e, em 1964, iniciou a colaboração para o Correio da Manhã, atividade que manteve por quatro anos. Participou do O Pasquim entre 1978 e 1980. Fiel às suas convicções na luta pelos direitos de cidadania, Hélio Pellegrino batalhou duramente contra a Ditadura Militar e contra as posições da sociedade psicanalítica, que criticava sua postura em relação ao regime de exceção. Em 1968 discursou na “Passeata dos Cem Mil”, uma manifestação de protesto por decorrência da morte de um estudante. Devido a sua ousadia em uma época de censura e tensões, Hélio foi mantido preso durante dois meses em 1969, tendo sido processado sob a acusação de líder comunista. Em 1980, o psicanalista aderiu ao manifesto de fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) juntamente a Mário Pedrosa, Lula, Antonio Candido, Apolônio de Carvalho e Sérgio Buarque de Hollanda. Dois anos depois, iniciou a colaboração para o jornal Folha de São Paulo, que duraria três anos e meio.Em 1988, o Brasil perdeu um grande psicanalista, poeta e defensor da liberdade do homem. Seu coração achou que já era hora de parar, levando-o ao falecimento. Como prova do seu brilhantismo em vida, foram realizados uma série de lançamentos póstumos, como a seleção de poemas Minérios domados (Ed. Rocco), organizada por Humberto Werneck, em 1993, e o livro Hélio Pellegrino, a paixão indignada (Ed. Relume Dumará) de Paulo Roberto Pires, em 1998. Em 2004, a editora Bem-Te-Vi publicou o “Arquivinho de Hélio Pellegrino". No mesmo ano, chegou às livrarias Lucidez Embriagada (Ed. Planeta), com organização de Antônia Pellegrino, neta do autor. Hélio deixou saudades, mas sua obra e seu exemplo de luta, sem dúvida, não serão esquecidos.


Texto de Natália Boaventura
Fonte: Escritório de Histórias

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