A MORTE E O MORTO
O espanto da morte não mora na face do morto.
Na cara do vivo o espanto esta torto.
O morto é sereno, gelado e pequeno;
Ao vivo parece gigante e obsceno.
No olho do morto a morte não brilha.
A morte está morta no olho do morto;
no olho do vivo a vida está torta.
Na boca do morto o verbo não fala;
o morto se cala.
Na língua do morto o gosto resvala.
Na boca do vivo a sólida prece,
pro morto nem conta.
A morte está morta na boca do morto
Na boca do vivo a nota está torta.
O olfato do morto nem cheira os odores
do incenso e as flores,
com que o atapetam..
A morte é inodora,
é o moro que fede.
Ao cheiro do morto
A morte concede seu pleno perdão?
A morte está morta no olfato do morto
No olfato do vivo o cheiro está torto.
O morto não sente a mão que o palpa;
seu tato nem sonda o abismo da curva.
Seu frio contato a morte afugenta.
No corpo do vivo a morte se esquenta
A morte está morta no tato do morto;
no tato do vivo o toque está torto.
O vivo confunde
a história da morte
com a estória do morto.
No fim do velório o vivo inda pensa
que o morto carrega a morte consigo.
Sepulta-o seguro de ter despachado
a vil encomenda
Retorna cansado,
logrando/logrado.
Que a vida da morte e a morte da vida
no vivo é que encontram
conforto e guarida.
Waldemar Zusman
(dos tempos do Floresta)
Há 2 anos
Fico pensando o que um colega meu chamado "Morto" pensaria sobre esse poema...rsrsrs
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