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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

PIRATAS NO BRASIL!


Naquele dia de Natal de 1591, três navios de velas desfraldadas ao sopro do vento entraram no porto de Santos. Os moradores da Vila enchiam as igrejas, ouvindo as missas e sermões da grande festa cristã. De repente, o estrondo da artilharia os encheu de espanto e os lançou em confusão. Ao mesmo tempo, as embarcações miúdas daquela frota despejavam na praia bandos de homens armados de mosquetes e piques, que, soltando gritos espantosos, foram matando quem esboçava a menor resistência, invadindo as casas, saqueando-as, apoderando-se também da Casa da Câmara e ocupando as posições convenientes para dominar a povoação. Eram, na maioria, ruivos, de olhos azuis, grandalhões e barbudos. E um clamor correu de boca em boca por toda a população espavorida: - Os piratas ingleses! Pertenciam os três barcos à esquadra do famoso ladrão do mar Thomas Cavendish. (...) Cavendish era natural de Trimby, na Grã-Bretanha, e recebera patente de corsário da Rainha Elisabeth, inimiga figadal do Império Espanhol, sob cujo domínio se encontravam Portugal e o Brasil quando atacou Santos. (...) Aqui permaneceu cerca de dois meses, tiranizando a população, roubando o que podia roubar, depredando e queimando os engenhos dos arredores. Depois, navegou para o Sul, levando os porões atestados de riquezas. Mas parece que o fato de haver atacado a indefesa povoação brasileira, naquele dia santificado do Natal de 1591, trouxe para ele e seus principais capitães uma verdadeira maldição. É verdade que, para Cavendish, o assalto não fora cometido pelo Natal, que os ingleses respeitam e celebram tradicionalmente; porque em 1591 já haviam os portugueses adotado o calendário da chamada Reforma Gregoriana, e, enquanto para eles (na Inglaterra) era ainda o dia 15, para os portugueses (de Santos) já era o dia 25 (de Natal). Aliás, os ingleses somente viriam a aceitar e adotar essa modificação cronológica, tardiamente, no ano de 1752. Segundo o relato de Knivet, que é o mais detalhado, estavam todos na igreja matriz, entre as 300 pessoas que lá se achavam, comemorando o Natal, sendo retidos e detidos no templo, enquanto os ingleses saqueavam a Vila. Mais tarde, realizado o primeiro saque e reunidas as forças invasoras, o povo, que se achava na igreja, recebeu ordem de abandoná-la, continuando detidos apenas "sete ou oito" dos principais. É evidente que esses 7 ou 8 deveriam ser 20 ou 30, dos mais ricos, importantes e mais capazes de lutar em defesa da terra. Aí estariam então, nesse meio, aqueles que citamos, e que o Natal, com o seu feriado e suas festas especiais, tornara indefesos e inúteis em tal situação. Conta ainda Knivet que, por haver demorado o saque, muitos moradores haviam conseguido safar-se da vila, e esconder-se com seus dinheiros e valores. Ele, Knivet, tivera ordem para dormir no Convento (dos jesuítas), e ali achara um caixote com 1.700 piastras de ouro (350 esterlinos).
Citado por Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti em História de Santos/Poliantéia Santista, 1986, Santos/SP
, primeiro volume.

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